Por Isabel Harari (Repórter Brasil) e Andrés Bermúdez Liévano (CLIP) | Edição Diego Junqueira
A mineradora canadense Sigma Lithium costuma se dizer “honrada” com suas operações de lítio no norte de Minas Gerais. A empresa afirma desenvolver uma extração verde “quíntuplo zero”, que eliminaria meia dezena de impactos ao meio ambiente
Além de funcionar como diferencial de marketing, a narrativa permite à empresa cobrar preços mais altos no mercado de lítio, minério fundamental para componentes de alta tecnologia, como baterias, veículos elétricos e turbinas eólicas.
O que a Sigma não revela, no entanto, é que parte de suas emissões de poluentes foi compensada por meio de créditos de carbono investigados num esquema de desmatamento ilegal, grilagem de terras públicas, corrupção e outros crimes na Amazônia, alvo da PF (Polícia Federal).
Créditos de carbono são certificados que representam a remoção de gases de efeito estufa da atmosfera. Eles podem ser gerados por projetos de preservação da vegetação nativa, como os realizados por populações tradicionais, e comprados por empresas para compensar as emissões de empreendimentos com potencial poluidor, como o da Sigma.
Esses são os achados de uma investigação jornalística realizada pela Repórter Brasil e pelo CLIP (Centro Latinoamericano de Investigación Periodística), no âmbito do projeto “Lítio em Conflito”, que reuniu dez veículos da região, incluindo Climate Tracker, para entender as controvérsias que cercam o negócio de lítio na América Latina. A investigação tem apoio do Rainforest Investigation Network, do Pulitzer Center.
Sigma afirma ter saído do mercado de carbono, mas continua anunciando lítio ‘zero carbono’
Os cinco “zeros” da Sigma no Brasil referem-se às tecnologias que a empresa diz adotar para “estabelecer um novo padrão para a mineração”. Os quatro primeiros são “zero barragens de rejeitos”; “zero produtos tóxicos” gerados; “zero água potável” (pois 90% da água usada é tratada e recirculada); e “zero eletricidade intensiva em carbono” (porque toda a energia é de fontes renováveis).
O quinto e último “zero” indicaria uma operação “zero carbono”. Em tese, a quantidade de gases de efeito estufa, como o CO2, emitida na atmosfera pela operação da mina seria igual à quantidade compensada por meio de 59 mil créditos de carbono comprados de um projeto em Lábrea, no Amazonas.
Foi essa a explicação dada em julho de 2023, quando a Sigma anunciou a primeira venda “zero carbono” de 30 mil toneladas de lítio e subprodutos.
Porém, o projeto que eliminou a pegada de carbono está há mais de um ano sob investigação das autoridades brasileiras. O caso foi revelado em 2024, numa investigação do site Mongabay, e confirmado posteriormente em operação da Polícia Federal.
A denúncia deixa dúvidas se o lítio comercializado pela Sigma em seu primeiro ano de operação era, de fato, “zero carbono”.
Embora tenha comprado esses créditos dez meses antes de as denúncias virem à tona, a mineradora nunca se manifestou publicamente sobre o assunto, nem revelou se substituiu os créditos suspeitos de crime ambiental. Na nota enviada à reportagem, tampouco respondeu a essas perguntas.
Em nota, a Sigma Lithium afirmou que não utiliza créditos de carbono desde 2024, quando decidiu reduzir as suas próprias emissões de poluentes, “substituindo os mecanismos de compensação por ações concretas de descarbonização e eficiência ambiental”. A companhia não detalhou, porém, as medidas adotadas.
“A empresa reafirma seu compromisso com uma mineração de baixo impacto ambiental, baseada em inovação tecnológica, saúde, segurança e responsabilidade socioambiental, alinhada com os objetivos globais de descarbonização”, continua a nota.
Embora questionada, a Sigma não respondeu quais medidas adotou ao tomar conhecimento dos problemas do projeto de carbono. Não disse também se comunicou clientes e acionistas sobre as suspeitas identificadas.
A empresa mantém sua estratégia de vender lítio “quíntuplo zero”. Porém, segundo a nota enviada a esta aliança jornalística o “zero carbono” foi substituído por “zero acidentes de trabalho”. Em seu site, no entanto, a empresa continua promovendo seu lítio como “zero carbono”, segundo os comunicados mais recentes publicados. Leia a manifestação da empresa na íntegra.
Sigma processa lítio ‘verde’ em Minas Gerais com ‘preço premium’
A Sigma Lithium Corporation é uma mineradora canadense listada nas bolsas de valores de Toronto (Canadá) e Nasdaq (EUA), e opera há uma década no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Nos municípios de Itinga e Araçuaí, a cerca de 600 quilômetros de Belo Horizonte, estão localizados seus principais ativos: a mina de Grota de Cirilo e a planta de processamento Greentech.
Desde 2023, a Sigma extrai e processa lítio no local, de onde partiu seu primeiro carregamento do Brasil: 15 mil toneladas de “lítio sustentável de alta pureza, próprio para baterias” e outras 15 mil toneladas de subprodutos. O destino foi o grupo chinês Yahua, fornecedor de hidróxido de lítio para fabricantes de veículos elétricos como Tesla e BYD (saiba mais sobre os acionistas e clientes da Sigma).
“Fomos fundados com a missão de produzir lítio ambientalmente sustentável, com as menores emissões de gases de efeito estufa possíveis”, celebrou Ana Cabral, presidente da Sigma, no anúncio da remessa. A empresa aproveitou para destacar que compensou 100% das suas emissões de poluentes à atmosfera “26 anos antes das metas das Nações Unidas para 2050”.
Até mesmo a empresa contratada pela Sigma para fornecer os créditos de carbono, a Carbonext, comemorou o envio. “Projetos como os apoiados pela Sigma protegem mais de 2 milhões de hectares do bioma amazônico, com monitoramento constante por satélite e em campo, garantindo alta integridade e qualidade nos projetos de conservação florestal”, afirmou Janaína Dallan, presidente da companhia.
Graças ao esforço ambiental, o lítio da Sigma alcançou um preço mais alto no mercado, segundo a mineradora: US$ 3,5 mil por tonelada de lítio (R$ 16,6 mil na cotação da época). “Um produto premium com preço premium”, segundo o comunicado da companhia.
E esta operação no norte de Minas ainda deverá ser ampliada, após financiamento de quase meio bilhão de reais obtido junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por meio de um fundo voltado à mitigação das mudanças climáticas.
“No fim das contas, trata-se de vender uma marca para os compradores”, opina a pesquisadora norte-americana Thea Riofrancos, professora do Providence College e autora do livro recém-lançado “Extraction: The Frontiers of Green Capitalism”, sobre o boom global do lítio.
“Ter um discurso sobre sustentabilidade se tornou cada vez mais vantajoso economicamente. Muitas empresas fazem isso não apenas para acalmar a sociedade civil ou os órgãos reguladores, mas porque surgiu uma espécie de mercado paralelo para o ‘lítio verde’, o ‘cobalto verde’ ou o ‘níquel verde’”, diz ela.
“Nesses casos, esses minerais podem alcançar um preço um pouco mais alto porque, em algum ponto da cadeia — como o fabricante de baterias, de carros elétricos ou o comprador final — há quem se preocupe com a pegada ambiental do produto”, continua Riofrancos.
Projeto de carbono escolhido pela Sigma é investigado por ‘esconder’ desmatamento
O projeto de carbono escolhido pela Sigma Lithium em meados de 2023 para compensar suas emissões daquele ano, chamado Unitor REDD+, tinha um problema grave só revelado quase um ano depois.
Os projetos REDD+, sigla para “Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal”, geralmente conectam comunidades ou proprietários que evitam o desmatamento a empresas que buscam compensar sua pegada de carbono. É um mecanismo de finanças climáticas para levar recursos do setor privado a quem está na linha de frente da conservação.Em agosto de 2023, a filial brasileira da Sigma usou 59 mil créditos do projeto Unitor para compensar a mesma quantidade de toneladas de CO2 emitida, de acordo com o registro de transações da certificadora norte-americana Verra, responsável pela validação da operação.
O projeto Unitor envolve 15 fazendas vizinhas em Lábrea, numa região perto da fronteira com a Bolívia. É uma área que, segundo o documento do projeto, apresentou a quarta maior taxa de desmatamento no Brasil entre 2008 e 2020.
Ao ingressar no projeto, essas propriedades privadas buscavam evitar o cenário mais comum na região: o “desmatamento além dos limites estabelecidos pelo Código Florestal Brasileiro”, que determina a preservação de 80% da área, e a “venda de madeira ilegal, seguida pela implementação de atividades agropecuárias insustentáveis”, conforme a descrição do projeto.
O projeto tinha dois proponentes: a empresa do mercado de carbono Carbonext Consultoria Ltda. e a empresa agropecuária Ituxi Administração e Participação Ltda., proprietária de uma das fazendas.
A face visível da iniciativa ambiental era o empresário Ricardo Stoppe Junior, médico de São Paulo e dono do grupo Ituxi, descrito pela revista “Exame” como o maior vendedor individual de créditos de carbono do Brasil.
Stoppe esteve envolvido, pelo menos, em cinco projetos REDD+, segundo a Radiografia do mercado de carbono publicada pelo CLIP. Três estão suspensos temporariamente, um foi rejeitado pela Verra e o outro está em formulação.
Validado por uma auditoria independente (a espanhola Aenor) e certificado pela Verra em maio de 2022, o projeto Unitor vendeu seus primeiros créditos naquele mesmo ano.
Porém, em 2024, descobriu-se que o Unitor e outro projeto chamado Fortaleza Ituxi, ambos ligados a Stoppe Junior, apresentariam inconsistências entre o volume de madeira declarado às autoridades e o montante realmente derrubado, segundo imagens de satélite.
A análise das imagens foi feita pelo CCCA (Center for Climate Crime Analysis) para a investigação jornalística da Mongabay, no âmbito do projeto colaborativo Carbono Opaco, liderado pelo CLIP.
A discrepância encontrada nas imagens sugeria irregularidades no manejo de madeira.
Duas semanas após a publicação da reportagem, a Polícia Federal lançou a Operação Greenwashing contra os responsáveis pelos projetos de carbono, analisando possíveis vínculos com um esquema de grilagem de terras e desmatamento ilegal.
Neste ano, a Polícia Federal concluiu as investigações e indiciou Stoppe Junior e outras 30 pessoas por grilagem de terras públicas para geração de créditos de carbono, entre outros crimes, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo. Para a PF, havia uma organização criminosa em torno do esquema.
Stoppe chegou a ser preso em junho de 2024, mas está em liberdade provisória, com monitoramento eletrônico. O relatório final de investigação da PF está sob análise do MPF (Ministério Público Federal), que vai decidir se denuncia o caso à Justiça.
O Grupo Ituxi, umas das empresas responsáveis pelos projetos, negou à Mongabay na época qualquer relação com as suspeitas e afirmou que todas as suas iniciativas são auditadas e certificadas.
Ricardo Stoppe Júnior e sua empresa foram procurados para comentar as informações, por meio de e-mails enviados a contatos cadastrados na Receita Federal e no site da empresa, além de mensagem enviada diretamente ao contato do empresário. Não houve, porém, retorno até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto a manifestações.
A Carbonext, por sua vez, disse que atuou apenas como prestadora de serviços técnicos e rescindiu os contratos assim que tomou conhecimento das investigações. Os dois projetos de carbono citados continuam suspensos até hoje.
Enquanto isso, a Sigma continuou vendendo seu “lítio verde quíntuplo zero” para outras empresas, em operações realizadas ao longo de 2024 e 2025.
Não há regras claras para mercado de carbono, mas especialistas defendem transparência
A reportagem perguntou à Sigma quais medidas tomou ao saber dos problemas do projeto Unitor, se comunicou clientes e acionistas, se comprou novos créditos para substituí-los e qual procedimento de devida diligência (como é conhecido o monitoramento da cadeia de fornecedores) adotou para avaliar a qualidade dos projetos de carbono. Não houve, porém, resposta a essas perguntas específicas (veja os questionamentos enviados).
Na nota enviada, a empresa disse manter a estratégia de comercializar o lítio “quíntuplo zero”, “um modelo pioneiro no setor de mineração sustentável”. O quinto zero, porém, não se refere mais à compensação das emissões de CO2 e foi substituído por “zero acidentes de trabalho”.
Por se tratar de um mercado novo, não existem regras sobre como devem proceder as empresas que percebem que os créditos adquiridos têm problemas ambientais ou sociais. No entanto, especialistas consultados pela Repórter Brasil e pelo CLIP concordam que as companhias têm o dever de transparência com clientes, investidores e cidadãos.
“A primeira coisa a fazer quando uma operação como essa vem a público é tirar os créditos do mercado e comprar novos créditos”, afirma Shigueo Watanabe Jr, pesquisador do Climainfo com mais de 20 anos de experiência no mercado de carbono.
“Se for uma empresa séria, ao tomar conhecimento do caso, deveria informar investidores e clientes, avisar que vai desconsiderar os 59 mil créditos de carbono por não ter certeza de sua integridade e adquirir outros para assegurar a produção carbono zero”, diz ele, que faz parte do Comitê Técnico da Gold Standard Foundation, a segunda maior certificadora de créditos de carbono.
Uma outra pesquisadora ouvida pela reportagem, que se manifestou anonimamente por atuar no setor, concorda que as empresas deveriam atuar de forma pública e transparente. “Uma empresa que é parte interessada em um projeto envolvido em um escândalo por possíveis crimes ambientais deveria fazer algum tipo de notificação pública, além de indicar seu posicionamento e o que está fazendo para remediar a situação. Trata-se de uma questão de reputação”, ela disse.
Outras empresas brasileiras que usaram créditos suspeitos ligados a Ricardo Stoppe Júnior tomaram medidas após a Operação Greenwashing. O banco Itaú e a Localiza, por exemplo, disseram ao InfoAmazonia que adquiriram novos créditos para substituí-los.
Por outro lado, o MPF no Amazonas recomendou a suspensão de todos os projetos de créditos de carbono no estado e destacou as controvérsias provocadas neste mercado. “Há informações sobre grandes empresas e marcas globais utilizando os créditos irregulares mencionados para se passar por sustentáveis perante seus consumidores”, escreveu em agosto de 2024. A recomendação, contudo, não foi implementada.
Questionada pela reportagem, a Carbonext afirmou que, assim que tomou conhecimento das investigações, rescindiu judicialmente os contratos de prestação de serviços para o desenvolvimento dos projetos de carbono investigados e notificou a Verra.
A empresa disse que “os créditos gerados pelo projeto seguem válidos pela comprovada conservação da floresta nas propriedades, embora o atestado de titularidade emitido pelos órgãos competentes esteja sob investigação por suspeita de corrupção”.
Acrescentou ainda que “não houve problema de integridade ambiental” no projeto Unitor, que foi base dos créditos da Sigma. “Os trabalhos propostos pelo projeto foram implementados, auditados e seus resultados, comprovados, o que possibilitou a geração dos créditos de carbono.”
A Carbonext não respondeu se notificou a suspensão do Unitor às empresas que utilizaram seus créditos, nem se recomenda algum procedimento aos compradores para substituir créditos suspeitos.
A certificadora Verra disse que não informa os usuários de créditos sobre a suspensão de um projeto, pois “não participa de transações de mercado, o que significa que não temos uma relação direta com o ‘usuário final’”. Seu processo, explicou, consiste em publicar uma carta de notificação no registro do projeto, “para que as partes interessadas estejam cientes do seu status” e possam realizar “uma revisão de controle de qualidade”. A certificadora não respondeu qual procedimento recomenda que os usuários finais sigam quando um projeto é suspenso por problemas de integridade ambiental (leia as manifestações na íntegra).
O que dizem os clientes da Sigma sobre as suspeitas
A reportagem questionou a Sigma se comunicou seus acionistas e clientes a respeito das suspeitas envolvendo os títulos de carbono adquiridos em 2023. A empresa, no entanto, não respondeu a essa pergunta.
Em nota, a mineradora afirmou que não utiliza créditos de carbono desde 2024, quando decidiu reduzir as suas próprias emissões de poluentes, “substituindo os mecanismos de compensação por ações concretas de descarbonização e eficiência ambiental” (leia a manifestação na íntegra).
O comprador do primeiro carregamento de lítio “zero carbono” da Sigma foi a empresa de Hong Kong Ya Hua International Investment and Development Co. Limited, uma filial do grupo Sichuan Yahua Industrial Group Co., mais conhecido como Grupo Yahua.
O grupo começou a atuar no setor de indústria química em 1952. Hoje os negócios se dividem entre explosivos civis e a cadeia produtiva do lítio — incluindo a exploração mineral, o processamento e a venda de produtos.
Assim como seu fornecedor Sigma, a Yahua atribui grande importância à redução de emissões e tem “firmado uma série de compromissos para reduzir a pegada de carbono de seus produtos”, que descreve em seu último relatório de sustentabilidade como “verdes e com baixas emissões de carbono”.
No ano passado, o grupo lançou um documento com diretrizes para reduzir sua pegada de carbono e ainda celebrou a sua certificação pelo Responsible Minerals Assurance Process, selo da Responsible Minerals Initiative baseado nas diretrizes da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) sobre a devida diligência para cadeias de abastecimento responsáveis de minerais.
Entre seus clientes estão empresas de veículos elétricos e baterias, como Tesla, BYD e CATL, maior fabricante mundial de baterias. A Yahua destaca ainda que seus produtos alcançam outras empresas do setor, como BMW e Volkswagen.
A reportagem perguntou à Yahua se a Sigma Lithium a informou que a carga de 2023 havia sido compensada com créditos de carbono de um projeto investigado pela Polícia Federal. A Yahua não respondeu até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto a manifestações.
A fabricante de baterias CATL confirmou que o Yahua Group faz parte de sua cadeia de suprimentos, mas declarou que “os materiais fornecidos à CATL pela Yahua não provêm da Sigma Lithium”. A empresa acrescentou que realiza “rigorosos protocolos de devida diligência” com fornecedores, incluindo auditorias de terceiros, inspeções no local e monitoramento contínuo dos impactos ambientais e sociais. “Até o momento, não foram detectados riscos à saúde pública ou ambientais nessas entidades, incluindo o Grupo Yahua”, acrescentou.
A BYD não respondeu quais medidas adotou para verificar a origem do lítio comprado do Grupo Yahua e garantir que não apresenta irregularidades sociais ou ambientais.
A Tesla foi procurada, mas não respondeu.
Acionistas da Sigma valorizam redução da pegada de carbono, mas não comentam suspeitas
Entre a centena de acionistas da Sigma, encontram-se principalmente gestoras globais de investimentos (asset managers) e bancos de todo o mundo. A maior investidora, com 43% das ações, é a empresa brasileira A10 Investimentos Ltda, uma gestora de investimentos representada legalmente pela presidente da Sigma, Ana Cabral, e controlada — de acordo com o relatório financeiro anual mais recente da mineradora — por Marcelo Freire da Paiva, copresidente com Cabral do conselho de administração da Sigma.
Na sequência de acionistas aparecem diversas gestoras de capital, que investem em empresas de capital aberto, como a Sigma, para incluí-las nos fundos de investimento que administram. De acordo com o desempenho na bolsa de valores, as ações geram rentabilidade para milhares de investidores privados ou institucionais, cuja identidade não é pública.
Pelo menos um desses acionistas da Sigma tem interesse declarado que seus investimentos sejam cada vez mais baixos em emissões de gases de efeito estufa: o Norges Bank Investment Management, que administra o Fundo de Pensões do governo da Noruega e, por meio dele, o maior fundo soberano de investimento do mundo.
Em seu site, a gestora da Noruega defende que todas as empresas de seu portfólio “se comprometam a alcançar a neutralidade de carbono até 2050 ou antes e alinhem suas atividades com os objetivos do Acordo de Paris”, além de que “estabeleçam metas intermediárias de redução de emissões baseadas em dados científicos”. Entre os critérios ambientais para investimentos do fundo, que possuía 2,2% das ações da Sigma em março de 2025 e era seu quarto maior acionista individual, está o de “as empresas divulgarem informações climáticas de qualidade e relevantes”.
Consultado sobre se estava ciente dos possíveis problemas de integridade ambiental dos créditos de carbono usados pela Sigma para certificar sua neutralidade de carbono em 2023, o Norges Bank Investment Management disse que “não tem nenhum comentário”.
A gestora de capitais Fitpart, que até junho aparecia como segunda maior acionista Sigma Lithium, informou que não tem mais participação no grupo.
Outros acionistas procurados pela reportagem foram o Citadel Group e a Julius Baer, que responderam o e-mail da reportagem, mas preferiram não comentar as suspeitas sobre os créditos de carbono adquiridos por Sigma. A Appian Way, a BlackRock e a Nucleo Capital não retornaram os e-mails enviados.
Litio en Conflicto es un proyecto liderado por el Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (CLIP) en alianza con Consenso (Paraguay), La Región (Bolivia), Quinto Elemento Lab (México), Repórter Brasil (Brasil), Ruido (Argentina), Climate Tracker Latam, Dialogue Earth, Mongabay Latam y Columbia Journalism Investigations (CJI), sobre cómo está funcionando la industria del litio en América Latina. Con el apoyo del equipo legal El Veinte.
